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Uma maré cheia de gente

 

Mais de seis centenas de pessoas, sobretudo emigrantes, irão participar no projeto « Maré Cheia ». A iniciativa tem início amanhã, na freguesia de Santa Cruz das Ribeiras e desenrola-se até ao próximo dia 14.

Durante uma semana estão programados vários eventos: passeios a pé, escalada à Montanha do Pico, regatas de botes baleeiros, jogos e refeições tradicionais como o típico caldo de peixe, jantar de sopas do Espírito Santo, bailes e chamarritas e concertos pelas bandas filarmónicas locais.

O objetivo da iniciativa, com larga difusão junto dos núcleos emigrantes ribeirenses, é congregar o maior número de naturais e descendentes desta localidade picoense, com grandes tradições nas atividades marítimas.

Os da minha geração, ainda recordam as viagens do iate Ribeirense entre os portos do sul do Pico e São Miguel, comandado por Mestre João Alves. Transportando pessoas e carga diversa, num vai-vem contínuo, aquele pequeno iate era um meio de as populações adquirirem nos mercados citadinos de Angra e Ponta Delgada toda a sorte de produtos de que careciam.

As compras eram efetuadas pelo mestre ou marinheiros nos mais reputados estabelecimentos de Ponta Delgada e os  comerciantes, que neles depositavam a maior confiança por serem « gente de palavra », vendiam-lhes a crédito até à volta do barco. Isto mesmo me foi testemunhado, há cerca de 20 anos, por um velho negociante da baixa daquela cidade, recordando o tráfego marítimo entre São Miguel e o Pico.

Mais tarde, as Ribeiras, por influência dos emigrantes pescadores de atum na Califórnia, voltou-se também para essa atividade. O próprio iate Ribeirense foi transformado em atuneiro e outras traineiras mais modernas e de maior porte foram sendo construídas. O enorme desenvolvimento que teve essa atividade industrial fez-se sentir nesta Ilha e em todo o arquipélago.

Ainda está por fazer a história sócio-económica da pesca do atum nos mares do Atlântico, sobretudo, no período entre os anos 50 e 80. Falta também analisar as causas e consequências das diversas crises que geraram muita riqueza e também muitos infortúnios a investidores, pescadores e trabalhadores fabris.

Os pescadores ribeirenses e suas famílias, foram atingidos positiva e negativamente por tudo isso.

Durante anos e anos, os braços mais jovens e fortes das Ribeiras, partiam de casa, no início da primavera, para formar companhas de traineiras varadas nos portos do Pico e do Faial e só voltavam pelo Espírito Santo; até ao fim da safra, andavam noite e dia, ao sol e à chuva, abrigando-se do mau tempo e dos olhares de outros atuneiros, por esses mares - das Flores a Santa Maria – sempre à procura de mais peixe. Foram mestres, pescadores, cozinheiros, fizeram de tudo, para conseguirem um pé de meia que lhes garatisse o sustento de suas familias. Muitos foram afortunados, outros tiveram de emigrar para refazer suas vidas.

Agora estão, novamente, de volta, celebrando a festa e contando memórias da caça à baleia em que foram homens de têmpera e mestres cuja sabedoria permanece « na memória das gentes ».

No Canadá, nas Américas de cima (Califórnia) e de baixo (Massachusets), no continente ou noutras ilhas, os ribeirenses são afirmativos, orgulhosos da sua história e ciosos do seu lugar.

Da pequena localidade da Ribeira Grande, (extremo leste) passando pelas Pontas Negras, Santa Cruz, Caminho de Cima e Santa Bárbara, terminando no Arrife (extremo oeste), a presença dos emigrantes é notória. Melhoraram as suas antigas habitações, construiram casas amplas e modernas e, frequentemente, aqui vêm, porque se sentem bem, sentem-se daqui.

Seria interessante estudar este fenómeno, mas julgo que, com a redução da idade da reforma e o aumento da média de vida, cada vez mais emigrantes regressam à sua terra para passarem alguns meses.

Bom seria que deles aproveitássemos a sua experiência de vida, os seus ensinamentos, a sua mundividência e, em troca, lhes proporcionássemos  melhores cuidados de saúde. Sentir-se-íam mais seguros e, provavelmente, permaneceriam mais tempo entre nós.

Quem sabe se assim não haveria uma « maré cheia » de gente retornada de que esta Ilha tão carenciada está.

médio.

 

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